Otimização, escalonamento, pioneirismo e sustentabilidade: eis os quatro pilares em que se inserem, de acordo com o 10 Top Strategic Technology Trends for 2023, as tecnologias a ter em conta no próximo ano. O estudo da Gartner destaca, entre outros, o recurso à inteligência artificial, à nuvem, mas não esquece a importância cada vez maior da relação entre avanços tecnológicos e sustentabilidade.
Otimizar resiliência, operações ou confiança
O pilar da otimização visa rentabilizar os sistemas de TI, de modo a garantir uma maior confiança, uma melhor tomada de decisão e a manutenção do valor e da integridade dos sistemas de inteligência artificial (IA) na produção. Estes objetivos passam por três tecnologias e o Sistema Imunitário Digital (SID) é uma delas. Combinando práticas e tecnologias como “observabilidade”, IA aumentada e engenharia de site e segurança de softwares, o SID combina insights com base em dados sobre operações, testes extremos e automatizados, resolução automatizada de incidentes, engenharia de software nas operações de TI e segurança na cadeia de suprimentos de aplicações, de modo a contribuir para a melhoria da experiência do cliente, aumentando a resiliência de produtos, serviços e sistemas. A consultora norte-americana prevê que em 2025, organizações que invistam na imunidade digital reduzirão até 80% o tempo de inatividade do seu sistema, o que resultará numa maior receita.
A Gartner destaca ainda na otimização a “Observabilidade” Aplicada, tecnologia que trabalha com os dados de uma organização, recorrendo à IA para analisar e fazer recomendações. Desta forma, a empresa conseguirá tomar decisões mais rápidas e precisas, o que se poderá traduzir numa redução na latência da resposta e em operações de negócios mais eficientes.
Otimizar em 2023 passará ainda por aplicar a Gestão de Confiança, Risco e Segurança de Inteligência Artificial. O TRisM dá suporte à governança do modelo de IA combinando métodos que explicam os resultados desta, implementando novos modelos e gerindo ativamente a segurança e o controlo de questões éticas e de privacidade. De acordo com um estudo da Gartner publicado em agosto de 2022, poucas são as organizações bem preparadas para a gestão dos riscos da IA. A sondagem feita na Alemanha, Reino Unido e Estados Unidos revelou que 41% das organizações já experimentaram uma falha ou incidente de segurança relacionado com a IA, mas também que as organizações que aplicam o TRisM obtêm melhores resultados no que toca aos projetos de IA, com muitas provas de conceito a passarem para a fase de produção e a conseguirem assim criar mais valor.
Escalonar para acelerar
A Gartner coloca entre as tendências tecnológicas estratégicas três que vão fazer a diferença no escalonamento, favorecendo as ofertas verticais, aumentando o ritmo de entrega de produtos e potenciando a conectividade entre lugares. As Plataformas de Nuvem de Setor continuam entre as tecnologias a ter em conta, através da combinação do software como serviço (SaaS), plataforma como serviço (PaaS) e infraestrutura como serviço (IaaS). A nuvem destaca-se por fornecer conjuntos de recursos modulares específicos para cada setor, adaptando-se a cada caso de uso de negócio, o que resulta numa maior agilidade, inovação e gestão de recursos. Segundo a Gartner, até 2027 mais de 50% das organizações irão recorrer a estas plataformas para acelerar os seus negócios.
Escalonar em 2023 passará também pela Engenharia de Plataforma. Esta consiste no processo de projetar e implementar ferramentas que melhoram a experiência de um software, tanto no que toca aos developers como aos utilizadores finais. Para além de otimizar a experiência do developer, a Engenharia de Plataforma acelera a entrega de valor ao cliente pelas equipas de produto. Segundo a Gartner, 80% das empresas de engenharia de software irão criar equipas de plataforma até 2026 e 75% dessas incluirão portais de autoatendimento.
Por fim, o Wireless. Apesar de não ser apresentada nenhuma tecnologia em particular, o recurso a este espectro de soluções é uma tendência que se manterá e aumentará durante os próximos anos. Até 2025, 60% das organizações usarão, segundo previsões da Gartner, cinco ou mais destas soluções em simultâneo. A consultora adianta ainda que as redes tendem a avançar para além da conectividade pura, passando a fornecer insights baseados em análises integradas, com os sistemas de baixo consumo a recolher energia diretamente das mesmas. Desta forma, a rede acabará por se tornar ela própria uma fonte de valor comercial.
Pioneirismo para reinventar
Permitir a mudança do modelo de negócio é o objetivo destas tendências. E tal passa por reinventar o relacionamento com colaboradores e clientes e por acelerar estratégias rumo aos mercados virtuais. Uma das tecnologias que vai sofrer um boom nos próximos tempos é a das SuperApps. Mais do que aplicações agregadoras de serviços, estas combinam os recursos de uma app, uma plataforma e um ecossistema em um único software. As SuperApps fornecem também o ambiente ideal para o desenvolvimento e publicação de miniaplicações por terceiros. Embora a maioria deste software se destine a dispositivos móveis, o conceito não tem de se limitar a eles, podendo ser aplicado a apps de desktop, como o Microsoft Teams ou o Slack. De acordo com as previsões da Gartner, até 2027 mais de 50% da população global recorrerá diariamente a várias SuperApps.
Outra tecnologia pioneira é a IA Adaptativa. Esta permite que o comportamento do modelo se altere depois da implantação, recorrendo para isso a feedback em tempo real. Estes sistemas visam treinar continuamente os modelos e aprender dentro de ambientes de desenvolvimento e tempo de execução, com base em novos dados e metas ajustadas às mudanças do mundo real.
Por último, mas de longe menos importante, o pioneirismo estará relacionado com o Metaverso, um espaço que se apresenta como o cruzamento do real com o virtual. Sendo um dos temas que marcou a recente Web Summit, o Metaverso começa já a fazer a diferença e 71% dos executivos acredita, de acordo com a edição de 2022 do Accenture Technology Vision, que terá um impacto positivo na sua organização. Um Metaverso completo será, de futuro, independente de qualquer equipamento, não será exclusivo de um único fornecedor e irá muito mais além do que uma ideia pré-concebida de um mundo de jogos ou entretenimento. De acordo com a Gartner, o Metaverso irá basear-se numa economia virtual própria, habilitada por moedas digitais e tokens não fungíveis (NFT). O estudo prevê que até 2027, mais de 40% das grandes instituições mundiais irão recorrer a uma combinação de Web3, Realidade Aumentada e Gémeos Digitais em projetos baseados em Metaverso, visando o aumento das receitas.
Sustentabilidade por defeito
Importa não referir apenas tecnologias, mas dar particular importância à Sustentabilidade. “Cada investimento em tecnologia deve ser confrontado com o seu impacto ambiental, tendo em mente as gerações futuras. A sustentabilidade por defeito, enquanto objetivo, obriga a tecnologia sustentável”. As palavras são de David Groombridge, vice-presidente analista emérito da Gartner. De acordo com a consultora, estas soluções aumentam a energia e eficácia dos serviços de TI, garantindo a sustentabilidade empresarial através de tecnologias como rastreabilidade, análise, software de gestão de emissões e IA. Os investimentos em tecnologia sustentável ajudam à criação de resiliência operacional e desempenho financeiro, abrindo novos caminhos para o crescimento.
Mas como estarão as empresas nacionais a encarar a sustentabilidade? Segundo um estudo da Sage publicado no final de setembro de 2022, 59% das PME portuguesas consideram-na uma questão importante para o negócio e destas 21% afirmam mesmo ser um fator central da sua atividade. Quanto a planos para 2023, 33% das empresas expressam vontade de tornar os negócios mais sustentáveis e 27% pretendem tirar partido da digitalização para reduzir os recursos. O estudo adianta ainda que 24% quer reduzir o desperdício e reciclar matérias, enquanto 20% planeia implementar processos mais eficientes na empresa e cadeia de abastecimento.
Da IA ao Metaverso, as tendências tecnológicas para 2023 apresentam-se como um admirável mundo novo que promete mudar para sempre a vida empresarial. Uma transformação que não pode deixar de fora a sustentabilidade.